Na indústria naval,
a âncora é uma peça de ferro que, amarrada a uma corda ou corrente, serve para
imobilizar o navio, evitando que ele seja levado mar adentro, ao sabor dos
ventos. Não à toa, os estudiosos do
comportamento humano passaram a usar a âncora como símbolo de algo que impede o
ser humano de evoluir e atingir todo o seu potencial criativo. Ao usar ao termo
potencial criativo, quero referir a uma situação na qual a pessoa atinja a sua
plenitude como ser humano. A um estado de gozo, êxito e felicidade em todas as
áreas da vida humana.
De fato, na jornada
humana há várias âncoras, que eu classifico no livro, “O próximo nível,” que será
publicado em breve, de sugadores de energia. Esses sugadores de energia impedem
as pessoas de chegar a um nível mais elevado de seu ser, de atingir a plenitude
em todas as áreas de sua vida. Não raras vezes, uma pessoa é até bem resolvida
e realizada em determinada área da vida, como a profissional, mas não consegue repetir
o mesmo sucesso na área amorosa, afetiva. O contrário também é verdade, muita
gente se dá muito bem no amor, mas fracassa no aspecto profissional. Num caso
ou no outro, ela se resigna em seu estado, justificando sua situação no famoso
e falacioso ditado de “sorte no jogo, azar no amor”.
Uma das principais
âncoras na jornada do ser humano, sem dúvida é a incapacidade de perdoar às
pessoas que lhe fizeram algum tipo de mal ou perdoar a si mesmo, por uma atitude
equivocada no passado. A ausência de perdão é como uma âncora pesada que arrastamos
por toda a nossa existência e, toda vez que revisitamos o passado, aquela carga
de emoção negativa volta à tona, como se os fatos estivessem acontecendo naquele
momento. E, convenhamos, ninguém consegue ir muito longe puxando uma carga
pesada sobre suas costas. O perdão funciona
como a ferramenta que quebra os elos das correntes que mantém as pessoas presas
ao passado.
Ninguém consegue
perdoar ao outro se não consegue perdoar a si mesmo. Aliás, uma das maiores dificuldades
que temos é de reconhecer que nós também temos culpa pelas experiências negativas
que experienciamos ao longo da vida. Temos o nefasto hábito de culpar a todos
pelos problemas que enfrentamos. O relacionamento não deu certo porque o outro
não prestava. A promoção no trabalho não veio porque o chefe não ia com a nossa
cara e puxava o saco do colega. Todos são culpados, mas nós nunca temos culpa
por nada. A esse comportamento terceirizador de responsabilidade eu chamo de
falta de autorresponsabilidade. Enquanto não fizermos uma reflexão sobre nossas
responsabilidades pelas desgraças de nossas vidas, não conseguiremos nos
perdoar, e, por via de consequência, também não conseguiremos perdoar àqueles
de fato nos fizeram mal.
A ausência de
perdão nos faz viver como gado, ruminando o passado, regurgitando fatos que já
deveriam ter sido digeridos pelo nosso ser. Sim, tudo o que acontece em nossa vida
deve ser visto um alimento do qual extraímos o que é bom e descartamos o que é
ruim. É como se vivêssemos em um permanente estado de prisão domiciliar, no
qual, toda vez que nos lembramos do passado, voltamos para a prisão, como forma
de pagar uma penitência por algo errado que fizemos. Não à toa, os lugares onde
as pessoas ficam encarceradas, recebem o nome de penitenciária.
O autoperdão é o
primeiro passo para que possamos liberar o perdão àqueles que nos ofenderam.
Quando liberamos o perdão a nós mesmos é porque já chegamos à conclusão de que
erramos, mas entendemos nossa condição humana e falível. Sim, todos nós somos
seres em constante e permanente construção e, por isso, nunca estamos prontos,
perfeitos. A perfeição é uma condição
inatingível ao ser humano, mas podemos atingir a excelência através do processo
de melhoria contínua (kaizen), e perdoar, faz parte desse processo de busca pela
excelência. Em permanente construção, aceitamos que somos passíveis de
cometimento de erros.
Entender que somos
seres em processo de crescimento e em constante construção nos faz entender que
as outras pessoas, aquelas que a nós fizeram mal, também o são. E isso nos faz compreender
que elas também são seres erráticos, que assim como nós, estão sujeitas a magoar
e ofender aos outros. Ora, se você é passível de erro, porque razão o outro
também não o seria? Por que razão seríamos mais merecedores de perdão do que
aqueles que nos fizeram mal?
Perdoar a nós
mesmos ou aos outros não significa ter complacência ou condescendência com
condutas abusivas ou criminosas. O perdão a que me refiro nesse texto nada tem
a ver com as leis postas, sejam elas penais ou civis. Relações abusivas devem
necessariamente ser denunciadas às autoridades competentes. Talvez tenha mais a
ver com aquele perdão que ficou conhecido por ter sido divulgado por um homem revolucionário
há mais de dois mil anos. No entanto, não devemos permitir que alguém nos faça
tanto mal ao ponto de termos que perdoá-la por setenta vezes sete, ou mais. O
perdão precisa vir obrigatoriamente acompanhado de aprendizado, tanto para nós,
quanto para quem o recebe.
Numa relação, se
perdoada, a pessoa nada aprende, talvez seja o caso uma reavaliação sobre de deixá-la
viver sua vida. Aliás, esse é o sentido e o objetivo do perdão, libertar as
pessoas das algemas e dos presídios mentais que as mantém presas ao passado. O
perdão liberta não apenas a quem o recebe, mas sobretudo, a quem perdoa. Quando
perdoamos, quebramos o elo que nos mantém ancorados no porto do passado. A vida
acontece agora, neste momento, “now”! Nem ontem, nem amanhã, mas hoje, aqui e
agora. Perdoe aos outros e perdoe-se! E faça isso, agora! Faça uso dessa
ferramenta e esteja livre para viver a plenitude de seu ser, estando apto a
atingir um novo em mais elevado nível de sua existência.
Leitores, esse é o meu mais novo texto, que fala sobre o perdão. Resolvi escrever sobre o esse tema porque assim como vocês, também faço algumas visitas ao passado e às vezes, percebo que há situações ainda não resolvidas. Espero que gostem do texto e o recomendem a outras pessoas. Tenho uma excelente notícia: Em breve vocês poderão ler aos meus textos num dos maiores portais de notícias de Minas, o Aconteceu no Vale. Minha coluna terá publicações semanais e teremos muitas surpresas que tenho certeza, vocês irão gostar. Não deixem de praticar algum tipo de atividades física, além de beber muita água. A gente tem encontro marcado no próximo texto.
Sebastião Cardoso é Advogado, escritor, palestrante, empreendedor e preto.
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